terça-feira, 29 de maio de 2012

RITA LEE: “O MERCADO FONOGRÁFICO NÃO É MAIS DO QUE UMA FEIRINHA HIPPIE”

Capa do Vínil que será lançado em BREVE!
Rita Lee lança Reza, seu primeiro disco de inéditas em nove anos, anuncia que já grava outro CD, diz que suas letras sobre vida saudável não são autobiográficas e revela que sente abstinência de Elis Regina. Rita Lee assiste a todos os capítulos da novela Avenida Brasil. Mas não é porque seu pop rock “Reza”, que dá título ao disco de inéditas lançado pela artista, toca insistentemente na trama de João Emanuel Carneiro. Rita é noveleira desde os tempos de O Direito de Nascer, primeiro grande sucesso da teledramaturgia nacional, exibido entre 1964 e 1965 na extinta TV Tupi. Esse comportado apego aos folhetins é face pouco conhecida desta pioneira roqueira brasileira que, confirmando seu caráter rebelde de ovelha negra, foi presa após confronto com policiais no show que fez em Aracaju (SE) em 28 de janeiro. Um gran finale para aquele que pode ter sido o último show de sua carreira, caso a artista não reconsidere sua decisão de se aposentar dos palcos. “Falaram muito da minha explosão emocional, nunca sobre o motivo dela”, reclama Rita em entrevista a Gente. Impedida por questões legais de se estender sobre o episódio de Aracaju, Rita prefere falar sobre o repertório de Reza, seu primeiro disco de inéditas em nove anos. Aliás, o longo intervalo não vai se repetir. Ela revela que já grava outro álbum.
capa do CD(lançado este mês) Reza é seu primeiro disco de inéditas em nove anos. O longo hiato foi uma imposição do mercado fonográfico, que prefere discos ao vivo, ou uma necessidade sua? Rita Lee Eu diria que foi um drive espontâneo. Estávamos gravando outro disco (Bossa’n’Movies, com sucessos de trilhas de cinema) e, numa das sessões de gravação, começamos a brincar com umas das trocentas músicas que escrevemos nesses nove anos de hiato. Foi ficando tão interessante que deixamos de lado o Bossa’n’Movies para nos aventurarmos num trabalho de inéditas. E o que é o mercado fonográfico? Bom, hoje em dia não é mais do que uma feirinha hippie! Em letras como as de “Divagando” e “Pistis Sophia”, a finitude é tema. O assunto “morte” tem passado por sua cabeça? A morte passa várias vezes pela cabeça de quem está vivo. Em “Pistis Sophia”, eu me lembrei das procissões de quando era pequena, procissões só de mulheres, as filhas de Maria. Era um canto feminino triste, ao mesmo tempo de muita força. Em “Divagando”, faço uma pergunta ao Universo: quanto tempo ainda tenho no mundo? Nada nem ninguém sabe responder. Em versos de “Vidinha” e “Tô um Lixo”, você relata, de forma meio desencantada, a adoção de hábitos mais saudáveis, como a malhação. A busca pela saúde deixa a vida mais chata? Para você ver que falar na primeira pessoa nem sempre é autobiográfico. Não parei de fumar, não malho, não ando de bicicleta, sou viciada em coca-cola. “Vidinha” é baseada num amigo nosso que faz tudo certinho e acha tudo uma merda. “Tô um lixo” foi um papo que levei com uma perua cuja cirurgia plástica foi um pesadelo. “Rapaz” é faixa de forte sensualidade. Qual o peso do sexo hoje na sua vida? Você quer saber sobre minha competência sexual? Pegue sua senha! A faixa-título, “Reza”, toca sem parar na novela. Acredita que pode vir a repetir o sucesso popular de “Amor e Sexo”, hit de Celebridade em 2003? Vê novelas? A esta novela Avenida Brasil, eu assisto todos os dias. Quando não posso, deixamos para gravar. Sempre fui noveleira, desde O Direito de Nascer, novela da TV Tupi em que Albertinho Limonta era a estrela (Rita se refere ao nome do protagonista da trama). Agora, se “Reza” vai fazer sucesso, não sei. Para mim, já faz mesmo antes da novela. Você cogita reconsiderar a decisão de se aposentar dos palcos. Há chance de seu público ver um show inspirado no disco novo? Por enquanto, está bom como está e, como diria Doris Day, o que será, será (Rita cita o título do maior sucesso da cantora e atriz norte-americana, “Que Sera Sera”, de 1956)! Seu confronto com a polícia no seu último show, em Aracaju, em janeiro, foi assunto nacional. Faria tudo de novo? Acredita que atitudes como a sua podem contribuir para a diminuição da repressão policial? Por uma questão legal, não devo ainda me pronunciar sobre isso. Falaram muito da minha explosão emocional, nunca sobre o motivo dela. Que o episódio merece um livro, merece. Mais na frente, a gente volta neste assunto. Em 2012, muito se tem falado de Elis Regina por conta dos 30 anos de morte dela. Vocês foram amigas. Que memórias tem dela? Não sinto apenas saudade de Elis, sinto abstinência dela. Nós nos falávamos quase todos os dias, nos visitávamos. As conversas iam desde abobrinhas até MPBRock, passando por moda e bichos. O que tem visto e ouvido de mais interessante na cena pop atual? Nada. Ainda estou de ressaca do Reza. Aliás, uma ótima ressaca. Em casa só escuto música instrumental. Há algum plano de relançamento de sua discografia? Sua obra fonográfica foi lançada em CD nos anos 90, mas nunca mais voltou ao catálogo de forma completa. Tomara, desde que seja completa. O plano existe sim, está em negociações, mas essas coisas sempre são complicadas. Em que pé anda o projeto do disco Bossa’n’Movies? Sai ainda este ano? Putz, retomamos o Bossa’n’Movies e adivinha o quê? Começamos a gravar outro trabalho só com músicas inéditas que sobraram do Reza. Mas não vamos mais estipular previsões de lançamento. Quando estiver pronto, nasce. Por Mauro Ferreira, publicado na revista Istoé Gente em 28/05/2012.

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